La Luna, o mais recente curta metragem da Pixar, finalmente vazou na internet! Dirigido pelo italiano Enrico Casarosa,o curta foi exibido nos cinemas antes do filme Valente(Brave) e concorreu ao Oscar de melhor curta de animação deste ano. O curta,rodeado por uma atmosfera fantástica e mágica, mostra um garotinho que acompanha pela primeira vez o seu pai e o avô no caminho do trabalho, dentro do bote de madeira La Luna. Ao invés de se deparar com um trabalho convencional, o menino se surpreende e acaba descobrindo um ofício singular e brilhante. Para contar a história de La Luna, Casarosa usou referências pessoais (como a relação entre seu pai e seu avô) e culturais (como o conto A Distância da Lua, de Ítalo Calvino).Metaforicamente,La Luna mostra o rito de passagem do garotinho, que deve decidir entre seguir os hábitos e a tradição de sua família ou fazer as coisas do seu próprio jeito.
Lembrado principalmente por sua co-autoria em Um Cão Andaluz, Luis Bunuel é tido na história como o símbolo do surrealismo na sétima arte. Em 1933, o diretor espanhol se aventura pelo documentário, gênero inédito para ele até então, e registra a vida de uma região isolada e esquecida do país, Las Hurdes. As imagens e a narração guiam o espectador ao longo da terra sem pão do título. Pessoas miseráveis vivendo em condições sub-humanas são expostas em imagens impressionantes. Apesar de não inovar no formato, Bunuel imprime seu estilo com a câmera, em cenas de impacto como a da morte do burro, e principalmente com a temática social. O relato das condições vividas no vilarejo não foi bem recebido pelo governo espanhol, que na época viva um período de alta instabilidade, e o cineasta foi exilado do país. Terra Sem Pão é um primeiro passo na direção de filmes mais realistas como Os Esquecidos, que vão redefinir a carreira do diretor espanhol. O "Cinema da crueldade", como André Bazin define, realizado por Bunuel é um dos retratos mais ásperos da miséria humana.
Nos últimos dias fiquei curioso sobre o cinema português. Ouvi alguém elogiando a Cinemateca Portuguesa e sua maravilhosa programação, a partir disso comecei a pensar: "Por que o cinema português não é consumido (em escala significativa) por aqui?".Talvez eu esteja desinformado, mas vejo muito mais filmes franceses, espanhóis, argentinos e até asiáticos em cartaz no circuito alternativo por aqui. O idioma comum, nossa maior ligação com Portugal, deveria facilitar esse acesso, mas não é muito fácil acompanhar a velocidade dos portugueses. Assistindo alguns curtas eu fiquei totalmente perdido sem legenda. Talvez falta de hábito, talvez não. Mas de qualquer jeito, acredito que seja uma fonte pouco explorada do cinema europeu. O filme de hoje não é um clássico do cinema português, mas me impressionou muito (e no fim, é isso que conta). Premiado em Milão e Varsóvia, North Atlantic, usa o formato do curta-metragem da maneira mais correta possível. Com uma situação chave, baseada em um fato real, Bernardo Nascimento conta uma história comovente sem esticar demais a situação.
Espero que esse seja o primeiro de muitos filmes portugueses no blog.
Motivado por esse doodle (aquelas variações interativas no logo do Google
que geralmente indicam alguma comemoração) fui conhecer o trabalho de Winsor
McCay e já sou muito grato ao Google por isso. O artista faz parte da história,
principalmente, por duas contribuições: Little
Nemo in The Slumberland, tira publicada semanalmente no jornal New York Herald entre 1905 e 1911; E Gertie, The Dinosaur, animação criada em
1914.
Em suas tirinhas, o cartunista Winsor McCay, contava as
histórias de Nemo, um garoto que vagava por seu imaginário, sempre conduzido
por algum personagem desse estranho universo. Nos primeiros anos, Nemo era
sempre convidado pelos personagens, que se apresentavam como servos do rei
Morpheu, para conhecer seu reino de sonhos e sua filha, a princesa Camille. Ao
longo do trajeto alguma coisa sempre dava errado e, tomado pelo medo, Nemo acordava em sua cama e
era repreendido ou consolado por seus pais que haviam acordado com os gritos do
menino. Nos anos posteriores, a partir de 1906, Nemo alcança as portas de
Slumberland, e novos personagens são introduzidos aos leitores.
Apesar de repetir semanalmente a mesma fórmula - Nemo
dormindo, viagem, problema, Nemo acorda assustado – o autor conseguiu continuar
criativo dentro desses limites. As aventuras sempre introduziam novos cenários
e personagens, cenas fantásticas lindamente produzidas pelas mãos do artista.
Em suas experimentações na área do cinema, Winsor McCay, teve lugar de
destaque entre os pioneiros da animação. Seu primeiro filme, Little Nemo, de 1911, apresenta o
processo de criação de um desenho animado de forma didática, mas ainda sim conduzida
por uma narrativa, apesar de simples. Em uma reunião com amigos, o cartunista
aposta que pode dar movimento aos seus personagens, sendo alvo de piadas no
mesmo momento. Um mês depois, com quatro mil telas desenhadas, McCay apresenta
os personagens de Little Nemo em
movimento, e até coloridos. O mesmo esquema se repete em Gertie, The Dinosaur, quando reunido com seus amigos cartunistas em
um museu, o artista se dispõe a exibir um dinossauro se movimentando. Ao fim de
seis meses de trabalho, McCay apresenta Gertie, seu dinossauro domado que
obedece a seus comandos.
PS: As tiras de Winsor McCay, de 1905 e 1911 estão disponíveis no link: Little Nemo.
Cartas para Mãeé um curta que mostra os pensamentos escritos pelo cartunista Henfil em cartas para sua mãe, Dona Maria.Permeadas de indignação política, as cartas foram publicas em jornais e livros, e relatam cronicamente o Brasil de trinta anos atrás e a trajetória de Henfil até a sua morte. Para dar vida a essas cartas, o curta documentário,dirigido por Fernando Kinas e Marina Willer, trás entre seus depoimentos figuras célebres comocartunistas Angeli e Laerte, o ex presidente Lula, o escritor Luis Fernando Veríssimo e do jornalista Zuenir Ventura. A narração das cartas é feita pelo ator e diretor Antônio Abujamra e tem como pano de fundo imagens do Brasil contemporâneo, o que faz com que a escrita de Henfil dialogue com o presente. Henfil, além de cartunista, também foi um grande ativista político no período da ditadura militar.Seus desenhos se tornaram famosos por esse ‘’quê’’ político e crítico e serviram,também, para simbolizar a luta pela democratização política do país.Mais tarde,em 1980, Henfil ajuda a fundar o Partido do Trabalhadores (PT) e consolida seus interesses sindicais.
Subwars, curta-metragem dirigido pelo chinês Sean Soong, é uma ilustração perfeita dos devaneios de qualquer garoto que tenha entrado em contato com algum tipo de cultura violenta. E digo que “é uma ilustração perfeita” por ter sido um garoto como o do filme. Cresci assistindo TV e jogando videogame. Nessas longas horas de entretenimento eu fui abastecido com ação e violência por todos os lados. Entre as fontes que eu dispunha estavam: animes, quadrinhos, filmes e jogos de guerra e luta. Em meio a explosões, tiros e socos, sempre ficava sonhando presenciar, ou até protagonizar aquele tipo de cena. Com seu talento para a animação, Sean Soong teve a oportunidade de recriar essa experiência e exibiu no épico massacre algumas de suas referências culturais como: Star Wars e Naruto. Para quem compartilha esse passado/ gosto, o filme é sensacional.
“Moinho de versos movido a vento e noites de boemia.Vai vir um dia quando tudo que eu diga seja poesia”
Podemos dizer que o documentário Ervilha Fantasiacapta a essência de Paulo Leminski. Sendo um dos trabalhados mais importantes sobre o poeta, o documentário descreve todo seu pensamento sobre poesia,literatura,cinema e psicanálise. Com depoimentos registrados em 1985 e reeditados posteriormente a morte de Leminski, o documentário é dirigido por Werner Schumann e foi direcionado para a televisão. Paulo Leminski morreu quatro anos depois da realização deErvilha Fantasia,deixando marcado neste documentário a sua visão e descrição do que é ser um poeta e de toda a cultura e pensamentos que permeavam sua mente.
Para mim, uma das coisas mais bonitas no cinema é a possibilidade de guardar e reproduzir lembranças- mesmo que elas sejam fictícias. Essa condição de "memória" e de armazenamento de imagem e som dão um realismo e uma imaginação de vivência absurda, de forma que as lembranças de uma pessoa passam a ser partes das nossas também. Em Anjos Caídos, acompanhamos as lembranças de uma velha senhora, que relembra sua juventude.O curta é escrito e dirigido pelo renomado diretor Roman Polanski que, através de flashbacks, reconstrói a memória da senhorinha.É um dos primeiros curtas do diretor e já percebemos alguns pontos de sua estética. Particularmente, acho sensacional o jeito com que Polanskitrabalha com a luz e a câmera nesse filme . A história do filme foi tirada do conto "Klozet Babcia" ,escrito pelo polonês Leszek Szumanski. A tradução para "Klozet Babcia" é "Toilet Granny" , que é o nome dado à mulheres que trabalham nos banheiros e cuidam dos papéis higiênicos. Outra curiosidade é o próprio Polanski atua no flashback que mostra a Segunda Guerra Mundial.
Jó, curta-metragem de 1993, dirigido por Beto Brant, coloca em cena dois elementos que sempre me interessaram muito: linguagem e história. Respectivamente efeito Kuleshov e a história de Jó – como sugere o título. O efeito Kuleshov foi um experimento conduzido pelo teórico Lev Kuleshov na primeira década do século XX. O experimento consiste na intercalação de um plano fechado que mostra um homem com uma expressão fixa e outros três planos curtos: um prato de comida, um bebê e uma mulher.
Da combinação de cada plano com o plano que mostra o homem nasce um significado diferente, como, fome, comoção ou desejo. Esse experimento é uma das bases das teorias cinematográficas soviéticas de Sergei Eisenstein e Pudovkin, que afirmavam a montagem como base da significação fílmica. O curta de Beto Brant apesar de não ser idêntico, me lembra muito o experimento soviético.
O outro ponto interessante é a história de Jó, de origem bíblica, e o desfecho criado pelo diretor. A história de Jó, que muitos afirmam ter inspirado Goethe a escrever “Fausto”, fala sobre um episódio em que o Diabo pede permissão a Deus para tentar corromper um homem, através das perdas, o demônio argumenta que a fidelidade de Jó à Deus está totalmente relacionada aos benefícios que o homem recebe na relação. Depois de arruinado Jó permanece fiel a seu criador. Nesse “jogo” o fiel perde tudo o que tinha: a vida de seus filhos, sua casa e suas riquezas.
O curta é bastante criativo e experimental, características que marcam essa fase do diretor, antes dos longas e da parceria com o escritor Marçal Aquino.
"Há uma energia no stop motion que você não consegue descrever. Tem a ver com dar vida a objetos e por essa razão que quis trabalhar com animação." Tim Burton
Vincent é um curta metragem dirigido por Tim Burton. Sendo o primeiro stop motion da carreira de Burton, o curta é consideravelmente famoso no meio cult e já nos mostra a estética característica das produções do diretor. Enquanto trabalhava como artista conceitual nos estúdios Walt Disney, Tim Burton encontrou dois aliados do departamento executivo : Julie Hickson e Tom Wilhite. Os dois ficaram impressionados com o talento de Burton e, embora suas ideias mais pessoais não fossem um "material Disney", eles sentiam que os trabalhos idealizados por Burton mereciam destaque. Com isso, em 1982, Wilhite investiu US $ 60.000 na produção de um curta inspirado na adaptação de um poema de Burton, intitulado Vincent.O filme é bastante autobiográfico, alguns dizem que é como mergulhar na infância peculiar de Burton. Filmado em preto e branco, o curta foi produzido por Rick Heinrichs e possui um “quê” de filme expressionista alemão. A história é sobre o garotinho de 7 anos Vincent Malloy, que sonha em ser como ator de filmes de terror Vincent Price (que inclusive dublou o curta).Além disso, o garoto tem como autor favorito Edgar Allan Poe e fantasia com coisas tenebrosas e obscuras , fingindo ser um louco atormentado.
Um gênero escasso aqui no blog, talvez até inédito, é a comédia. Não sei bem porque isso acontece, mas precisa mudar. Eu mesmo nunca postei nenhuma comédia por nunca ter me impressionado com nenhum curta desse gênero. Não sei se a produção cômica é baixa nesse formato ou eu que nunca dei sorte de encontrar os bons filmes. Outra particularidade da comédia, na minha opinião, é a relatividade de “o que é engraçado” para cada pessoa. É claro que o gosto do público varia independente do gênero do filme, mas com a comédia me parece que isso é mais forte. O que me faz rir pode te dar sono, o que te faz rir pode me deixar indignado. Mas arriscando não atingir o gosto humorístico de vocês eu vou postar baseado no meu. Resumindo: Eu ri e gostei.
Dirigido por Jeroen Annokéé, Suiker parte da clássica cena: vizinha bonita que pede um pouco de açúcar emprestado; E transforma tudo em um cenário cômico que é basicamente o inverso do famoso “crime perfeito”, onde geralmente o assassino escapa sem deixar uma pista sequer.
Com a modernidade e a aparição de novas artes de vanguarda, o conceito do que é arte foi expandido e modificado. A street art,ou arte urbana,é um grande expoente popular da Arte nos dias de hoje. Dispensando galerias e molduras, a arte de rua é um diálogo entre as cores e o asfalto. Dos guetos aos bairros de classe alta, a arte surge nos lugares mais inusitados e é colocada de diferentes formas.O Grafite,o stêncil e lambe lambe são os artifícios mais utilizados para se expressar - ou não - uma mensagem sob essa grande tela que são as cidades. Sendo um dos responsáveis por popularizar a street art , o artista urbano Invader propõem uma invasão pelo mundo.Inspirado no clássico jogo Space Invaders, Invader sai pela ruas colando mosaicos (uma referência ao 8 bit) de azulejo em formato de alienígenas e naves do jogo. No curta In Bed with Invader,dirigido pelo vídeo maker Raphael Haddad,podemos observar de perto o trabalho de Invader, desde o processo criativo até a colagem dos mosaicos nas ruas. A intervenção desse street artist ja se espalhou pelo mundo. A "Invasão" , que começou em Paris, hoje ja pode ser vista em vários lugares como Hong Kong,Los Angeles e mesmo até São Paulo. Parte dela ja foi mostrada no documentárioExit Through The Gift Shop,dirigido pelo street artist Banksy,outro personagem importante para a Arte urbana.
Organizadas disciplinadamente, várias pessoas esperam em filas. Esperam no mercado, em shows, em casas de jogos, em igrejas, em galerias de arte, em bancos, mas quando, em uma fila por comida, alguém não consegue ter acesso ao seu alimento, e assim, toda a estrutura começa a ruir. O povo percebeu o claro abuso que estava sofrendo do governo e indignado por pagar por seus erros encontrou seu “Casus Belli” – espécie de legítima defesa em nível de estado.
Filmado em 2010, dois anos depois do inicio da crise econômica mundial, Casus Belli, é um curta-metragem grego que resume bem a reação popular em relação às medidas de austeridade propostas por seu governo. Depois de um longo período de gastos que excediam muito a produção interna do país, o governo grego se viu despreparado para a catastrófica crise financeira de 2008. Agora soterrado em dívidas colossais, e sem crédito em lugar nenhum, o governo optou por medidas de emergência para tentar salvar sua economia. Essas medidas são basicamente: aumento de impostos, aumento do preço da gasolina, aumento da idade mínima de aposentadoria e etc. Essas medidas não foram/ não são bem recebidas e grande parte da população reagiu agressivamente. Entre protestos e greves está o filme de Yorgos Zois.
A combinação de habilidades de profissionais de áreas distintas normalmente resulta em um produto no mínimo interessante.O curta Morrer ao seu lado é um grande exemplo de um resultado criativo entre a parceria de diferentes áreas artísticas. Idealizado pela designer de acessórios Olympia Le-tan e os diretores Simon Cahn e Spike Jonze, o curta é uma animação feita com bordados de feltro estilizados por Olympia. O projeto começou depois que Jonze pediu um bordado com a capa do livro O Apanhador no Campo de Centeio para colocar em sua parede e Olympia pediu um filme em troca.A trama de Morrer ao seu lado tem como pano de fundo a famosa livraria Shakespeare and Co. e conta a história do amor entre o esqueleto da capa do livro Macbeth e a personagem Mina, de Drácula.
Nice é uma cidade francesa que por volta dos anos 30, época em que foi produzido este filme, era conhecida e vendida para turistas como “a cidade do sol e da felicidade”. O tal paraíso era uma opção para quem quisesse fugir do ocasional frio de Paris, mas Nice, como a maioria das coisas, é mais bonita em alguns ângulos e distâncias específicas. É com o lado bonito que Jean Vigo inicia seu filme. Do alto, com planos abertos preenchidos por praias, coqueiros e belas casas, o cineasta se aproxima da cidade, aos poucos, expondo suas características e defeitos. Pessoas ricas e seus hábitos frios e rígidos, pessoas pobres e sua festa vulgar e desordenada fornecem o retrato cultural da cidade; Praias, belos prédios e casas são contrapostos a becos, sujeira e fumaça para iluminar os outros lados da cidade do sol.
Filho de um militante anarquista, Jean Vigo, realiza sua estreia no cinema com personalidade e protesto. Com a ajuda do russo Boris Kaufman, irmão de Dziga Vertov, o cineasta cria um mosaico de hábitos, expressões e características que ilustram a sociedade burguesa que seria criticada ao longo de sua obra.
Dirigido por Krzysztof Kieślowski, Refrãoé um dos primeiros curtas do diretor polonês. A história se passa dentro de uma repartição de uma funerária, responsável pelo enterro e gerenciamento de cemitérios. Lá podemos perceber que o alto nível de burocracia e repetição de exigências que fazem com que a morte - e a vida - se reduz apenas a números. Sendo um documentário, o curta expressa bem a primeira fase de Kieślowski,que é influenciada por características do gênero. Durante os anos 60 e 70 na Polônia, o documentário havia permitido grandes progressos no tratamento das realidades sociais e dos sentimentos dos cidadãos, em oposição à propaganda que emanava da sede do Partido Comunista. Embora a censura fizesse um grande esforço para controlar a mídia, os cineastas e público desenvolveram uma espécie de uma linha de comunicação intuitiva. Como tal,os documentários tornaram-se veículos populares e respeitados por conta de sua crítica social. Kieslowski lembra que "Naquele tempo havia uma necessidade, muito emocionante para nós, de descrever o mundo. O Comunismo havia descrito como o mundo deve ser e não como ele realmente era.’’
Atualmente, os estúdios Pixar são os líderes do mercado de animação. Vencedora de vários Oscars, a produtora é especializada em alta tecnologia e computação gráfica, sendo a pioneira no campo da animação tridimensional.
A companhia iniciou suas atividades sob o nome de Graphics Group como uma subdivisão da Lucas Films - estúdio cinematográfico de George Lucas. Nessa fase o estúdio tinha como objetivo exclusivo o desenvolvimento de softwares de computação gráfica e efeitos visuais. Em 1986, a Graphics Group foi comprada por Steve Jobs e foi rebatizada "Pixar", uma combinação da palavra "pixels" e da palavra "art”.
A “pré-história” da Pixar é marcada por pesquisas e desenvolvimentos tecnológicos visuais, softwares e hardwares, mas basicamente nada de cinema na prática. A iluminação criativa começou quando, ainda em 86, um dos empregados da companhia resolveu criar animações como demonstração do poder visual de seus programas e computadores. O funcionário era John Lasseter e uma das “demonstrações” foi premiada e mais tarde se tornou o símbolo do estúdio.
Luxo Jr., 1986 - John Lasseter
A partir desse momento começa uma ruptura entre a Pixar “ciência” e a Pixar arte. O departamento de animação, chefiado por Lasseter, começou a produzir comerciais animados para outras empresas, gerando assim lucro e experiência criativa. Em 1990 o setor de hardware é vendido, poucos meses depois o estúdio assinou um contrato com a Disney para a produção de três animações de longa-metragem, o primeiro deles foi Toy Story.
O ano de 1995 marca então a estreia do primeiro longa-metragem de animação tridimensional. O filme é assinado por John Lasseter, mas tem em sua autoria a mão de dois outros importantes nomes do estúdio: Andrew Stanton (Procurando Nemo, Wall-E) e Pete Docter (“Monstros S.A” e “UP”). A revolução estética veio acompanhada de uma narrativa que foi além do público infantil e alcançou pessoas de todas as idades.
O segundo filme, Vida de Inseto, de 1997, iniciou a tradição de sempre exibir, antes do longa-metragem, um curta do estúdio. Esse hábito é uma das características que marcam o trabalho da Pixar até hoje. Não é comum ver um curta-metragem numa sala de cinema atualmente, a não ser em raros festivais destinados ao formato. A única produtora que exibe curtas no cinema (circuito comercial) é a Pixar, e por isso ela é importante para o Mr. Curtura.
Depois dos três primeiros longas do contrato assinado com a Disney, em 1991, a Pixar seguiu na parceria. A relação apesar de muito produtiva sempre foi permeada por desentendimentos. Em 2006, depois de algum desgaste entre as empresas, a Disney comprou a Pixar e Steve Jobs deixou o comando para se tornar um dos principais acionistas do grupo.
Famosos pela perfeição, a Pixar sustenta em sua filmografia um padrão de qualidade invejável. Não é estranho ouvir dizer que eles não têm um filme ruim em seu histórico. Se por um lado eu sonho com um mercado de animação mais diversificado, por outro sou grato que o público compre ingressos para filmes tão belos. Aqueles raros momentos em que o popular e o artístico se encontram, o eclipse apelidado de “sucesso de público e crítica”.
Para demonstrar nosso imenso respeito pelo trabalho da Pixar e, principalmente, pelo espaço que eles dão ao curta-metragem no cinema, vamos listar aqui nossos curtas favoritos do estúdio:
Geri's Game
Geri's Game foi o primeiro passo na tradição da exibição de curtas pelo estúdio. Dirigido por Jan Pinkava, O curta é o primeiro da Pixar que contém um humano como personagem principal.A história é sobre um velhinho (Geri) que joga xadrez consigo mesmo. Mudando de um lado para outro do tabuleiro, Geri muda sua personalidade, interpretando o seu adversário conforme o jogo avança. Essa mudança de papel é percebida conforme Geri tira e coloca os óculos e muda sua feição, ora mais agressivo ora mais calmo e assustado.
O curta ganhou em 1998 o Oscar de Melhor Curta Animado.Em homenagem a Geri, a Pixar retomou o personagem em Toy Story 2,em 1999. Geri aparece como um velhinho que concerta brinquedos e as peças do jogo de xadrez podem ser vistas em seu estojo de ferramenta.
For The Birds
For The Birds, curta exibido antes de Monstros S/A (2002), conta a história de um pássaro que quer ser aceito em um grupo, mas não consegue por ser diferente dos outros pássaros. Os outros, menores e semelhantes, imitam e zombam do pássaro excluído até que ele se enfia entre eles. O filme foi premiado no Anima Mundi, no Annie Awards e no Oscar.
One Man Band
Exibido em 2005 com o longa Carros, o curta-metragem One Man Band conta a acirrada disputa entre dois músicos de rua pela atenção, e a moeda, de um pobre garoto que estava prestes a jogar seu dinheiro numa fonte na esperança de que ela realizasse seus desejos.
Lifted
Lifted, exibido junto com Ratatouille em 2007, ilustra uma situação que lembra muito um teste de auto-escola, mas uma versão alienígena disso. A prova, ao invés de uma avaliação de direção automobilística é um teste de abdução. O jovem E.T tenta de diversas maneiras extrair um homem de dentro de casa, mas descobre que, também nesse caso, a teoria é mais fácil que a prática.
Presto
Presto, o curta exibido com Wall-E em 2008, mostra o mais clássico número de mágica, tirar o coelho da cartola, dando errado. Não por falta de experiência do mágico, Presto, mas por falta de vontade do coelho, que protesta para receber sua cenoura. Infelizmente para o mágico o coelho coloca seu protesto em prática durante uma apresentação e, lá com as cortinas abertas, o mágico insiste em tentar realizar o número e sofre duras consequências.
Day And Night
Day and Night, curta mais recente da Pixar lançado junto com Toy Story 3, conta como o dia conheceu a noite, mostra as brigas pelas diferenças, as disputas para ver qual é melhor e depois o fascínio pelos pontos fortes do outro e, enfim, a harmonia no por/nascer do sol.
Está feito, o post que há tanto tempo estávamos devendo. E agora, pra encerrar esse post infinito, um trecho do próximo curta da Pixar, La Luna, que será exibido junto com Brave ainda esse ano.
Pra fechar, pelo menos por enquanto, a coleção de videoclipes cinematográficos, que já conta com Time to Dance (The Shoes) e Fight For Your Right Revisited (Beastie Boys), vou postar hoje Undun. O filme, dirigido por Clifton Bell, conta a história de um garoto, seu caminho no crime e as conseqüências vividas por ele. Com o mesmo título do disco, Undun ilustra o álbum com precisão. A obra não faz do protagonista um vilão e também não o retrata como um herói, basicamente mostra um contexto social e a reação escolhida por esse garoto para "vencer" nesse cenário.
Os quadrinhos influenciaram diretamente a cultura pop e suas vertentes. No cinema, as HQ's serviram de influência para o Cinema Marginal e principalmente para o principal diretor do movimento, Rogério Sganzerla, que incorpora elementos como colagem de imagens, narração em off e a manipulação de montagem em seus primeiros curtas. HQ, é um curta documentário do próprio Sganzerla,em homenagem ao mundo das histórias em quadrinhos.Dirigido pelo próprio e pelo jornalista Álvaro de Moya, que é considerado por alguns o maior especialista em quadrinhos do Brasil,o curta fala sobre história das HQ's e seu processo de evolução (pelos menos até os anos 70). HQ's como Yellow Kid, Gato Felix e Flash Gordon são citados no curta, que começa com a história das ilustrações das cavernas e vai até The Spirit, famoso HQ de Will Eisner.
Partindo do princípio filosófico “ser é ser percebido”,do pensador irlandês George Berkley, o também irlandês e Nobel de literatura,Samuel Beckett realizou sua primeira e única incursão na sétima arte. Famoso por sua obra literária e dramatúrgica, o autor chegou a produzir alguns trabalhos para televisão, mas no cinema só uma obra leva seu nome, o curta-metragem Film de 1965. O principio da percepção como base para a existência é auto-explicativo, basicamente quem é percebido existe. Beckett, baseado nesse pensamento, ilustra em seu filme uma espécie de suicídio, acompanhando o protagonista que foge da percepção alheia e da própria. Apesar da época, o filme é preto e branco e mudo e, curiosamente, resgata o astro da comédia muda, Buster Keaton, para atuar como protagonista. A parte curiosa é que o ator nãorealiza nada dos movimentos cômicos que o imortalizaram nos anos 20 e seu rosto pouco é mostrado. “Por que o Keaton, afinal?” é uma das minhas eternas dúvidas.Outro célebre integrante da equipe é o fotógrafo Boris Kaufman, irmão mais novo do cineasta russo Dziga Vertov. Film foi inicialmente rejeitado pela crítica que o classificou como obscuro e sem propósito, mas rapidamente foi reavaliado e recebeu prêmios nos festivais de Veneza, Tours e Oberhausen.
A produção de um filme sempre gera curiosidade para quem assiste. Por isso, o Making Of, uma espécie de documentário sobre osbastidores do filme, é bastante comum em grandes produções da indústria cinematográfica. Com apenas 17 anos, Vivian Kubrick (filha de Stanley Kubrick) filmou os bastidores do filme O Iluminado e produziu o curta documentário Making The Shinning, que foi exibido na BBC. Além de mostrar os sets de filmagem, o documentário acompanha de perto o aquecimento de Jack Nicholson e Shelley Duvall tendo um colapso de stress e cansaço por conta da extrema exigência que Stanley Kubrick fazia das atuações.
Um dos caminhos para a guerra é, sem dúvida, a vingança. Aqueles intermináveis ciclos de ataques que crescem a cada momento resultando em destruição e prejuízos. O que o diretor iraniano Abbas Kiarostami apresenta aqui é, além do caminho da destruição, o outro, a solução, a amizade.
O diretor iniciou sua carreira trabalhando com crianças e adolescentes em uma espécie de Centro Cultural em Teerã. Em seus primeiros anos de carreira, Kiarostami abordou os principais problemas iranianos e do Oriente Médio utilizando o mundo infantil como forma de ilustrar. Sempre realista e objetivo, o iraniano conta em cinco minutos um dos principais problemas do mundo.
Dirigido por Craig Welch, How Wings Are Attached To The Back of Angels mistura animação com fotografia de forma surreal. O curta conta a história de um homem que tenta encontrar
como é a anatomia das asas de um anjo. O belo e o estranho se misturam nessa descoberta e o homem, obcecado por controle,acaba se perdendo no meio dos seus experimentos. Quanto a estética,Craig Welch se destaca como animador por conta do seu traço minimalista e por criar um mundo meticulosamente surreal.Apesar de Welch ter se destacado primeiramente como pintor e desenhista, ele considera a animação como o meio perfeito para auto expressão. How Wings Are Attached To The Back of Angels é produzido pela National Film Board of Canada e ganhou prêmios como o Prêmio Especial no Festival Internacional de Animação de Hiroshima.
Para alguns é quase inevitável assistir um filme sem fazer comentários durante a sessão,principalmente quando há coisas desconexas, mensagens muito abstratas ou quando chega a ser revoltante mesmo.EmThe Critic,um homem comenta de forma irônica um filme ''X'' de formas geométricas, tentando entender o que se passa no filme. Dirigido por Ernest Pintoff e narrado pelo cineasta Mel Brooks, o curta é uma sátira à arte moderna.Além disso, The Critic ganhou o Oscar de melhor curta animado de 1963 e apresenta uma crítica direta aos curtas artísticos do diretor Norman McLaren, que na maioria das vezes são animações de desenhos geométricos. A ideia do curta surgiu quando Mel Brooks estava no cinema assistindo um filme avant-garde de Norman McLaren e ouviu um senhor rabugento na fileira de trás, resmungando para si mesmo sobre o filme.A partir disso, Brooks reconheceu as possibilidades de se criar uma comédia e contatou Ernest Pintoff para fazer o curta.
Um dos grandes benefícios da falta de mercado para os filmes de curta-metragem é a liberdade criativa e isso é observado com facilidade no campo das animações. Ao longo da história a animação esteve/ está praticamente presa a um público fixo, o infantil, e isso já limita os temas abordados. Outra característica do cinema comercial de animação é o domínio constante da produção por um ou poucos estúdios, como Walt Disney e, mais recentemente, Pixar e DreamWorks. São poucos os autores que conseguem invadir o circuito comercial, mas existem diretores que vem conseguindo espaço no mercado, como o francês Sylvain Chomet.
Chomet apesar de não abordar temáticas muito pesadas em seus longas, tem características próprias e marcantes. Seus filmes, sempre com poucos diálogos – Semi-mudos - levam na medida certa o humor e o drama. Uma de suas grandes influências é o ator cômico Jaques Tati, que fazia comédia muda ao estilo Chaplin. Essa influência se transformou em homenagem no longa O Ilusionista onde o protagonista era uma versão animada do comediante. O diretor alcançou reconhecimento quando, em 2003, concorreu ao Oscar de melhor animação com “As Bicicletas de Belleville”, longa produzido depois de “A Velha e os Pombos”.