O que pode acontecer quando um homem se depara com penas
crescendo no seu braço? É câncer? Ele vai morrer?
Dirigido por Paulinho Caruso, Penas é uma adaptação da história em quadrinhos homônima do
cartunista Laerte Coutinho. Exibido no ano passado no 23º Festival
Internacional de Curtas Metragens de São Paulo, o filme conta com a presença do
próprio Laerte e dos cartunistas Angeli, Alcy , além de Paulo Caruso, pai do
diretor.
A história, com um non-sense inspirador, foi publicada em
1988 na revista Chiclete com Banana e não possui um destino certo. Um homem
comum passa a ter penas brancas no braço e começa a “alçar vôos” mais altos na
vida.
Para
não me repetir (ainda mais) sobre o assunto stop motion, optei por incluir no
post três autores que usam a técnica como base de seu trabalho, estão em
atividade atualmente e sempre me impressionaram.
Atualmente
desgastada, mas sem perder seu prestígio, a técnica de stop motion sempre
impressiona o público, principalmente quando o processo de execução é
esclarecido. Aparentemente inovadora, a técnica é uma espécie de engenharia
reversa do conceito básico de imagem cinética: são sequências de fotografias
com pequenas alterações de movimentos. Quando usada com atores reais, o stop motion
reduz a projeção e move os atores de formas não convencionais, evidenciando o
uso da técnica e renegando a ilusão de movimento natural da imagem cinética.
Mas na maioria das vezes o recurso é utilizado com bonecos ou objetos inanimados,
que então se tornam personagens ou são usados como efeitos visuais. A técnica
ganhou espaço nos longas infantis com grandes produções como O Estranho Mundo
de Jack, Fuga das Galinhas e os mais recentes ParaNorman e Frankenweenie.
Como foi dito, a técnica em si existe desde a origem do cinema, e por isso já foi usada por diversos realizadores. Nos tempos do chamado cinema primitivo, o diretor espanhol Segundo De Chomón já explorava o stop motion em seus filmes. Um dos percussores da técnica na animação, Ladislas Starevitch já animava insetos mortos em 1911. Outro grande autor do leste europeu, Jan Svankmajer desenvolveu boa parte de seu trabalho a partir do stop motion, mesclando pessoas e objetos e criando atmosferas surreais.
PES
Na recente última edição do Oscar, Adam Pesapane (PES), um
animador francês, discípulo do stop motion, concorreu ao prêmio de melhor
curta-metragem de animação. PES cria filmes curtos, com cerca de um minuto e
meio, utilizando utensílios domésticos, ferramentas, comidas e outros objetos
como personagens e cenário. Seu filme, Fresh Guacamole é o filme mais curto a
ser indicado na história do Oscar. Todos seus filmes estão disponíveis no seu
canal do Youtube, PES Films.
BLU
BLU
é um grafiteiro italiano de renome internacional. Seu trabalho sempre questionador
e combativo, se apresenta geralmente em pinturas de grande escala nos muros das
cidades. Talvez ele não tenha sido o
primeiro a usar o stop-motion em pinturas desse tipo, mas é impressionante o
modo como seu estilo, já tão forte como imagem estática, se desenvolve nas
transformações que conduzem os filmes. Suas obras estão disponíveis no site BLU.
Lúcia y Luis
Criados
para compor uma instalação mista de vídeo e artes plásticas, os dois filmes
foram dirigidos por Joaquin Cociña, Niles Atallah e Cristobál Leon. As duas
narrativas agem de forma complementar e contam de diferentes pontos de vista
uma história trágica de amor e terror. Os filmes são narrados por vozes
infantis que sussurram os acontecimentos que são ilustrados pelos movimentos do
quarto e por desenhos na parede.
Os versos acima foram gravados por Vicente Celestino na década de 50 e serviram de base para que Dennison Ramalho executasse sua adaptação, ou como ele prefere: sua “livre perversão” da música.
O diretor é um dos poucos nomes a produzir para o carente público de filmes de terror, gênero inexistente no cinema comercial da atualidade e raríssimo na filmografia nacional. Autor de três curtas até agora (Nocturnu, Ninjas), todos de terror, Dennison alia qualidade técnica a elementos como a violência explícita, religiões e o sobrenatural. Apesar de amado por alguns, o cinema de terror é mal visto por muitos, o que talvez intensifique a sua ausência nas salas brasileiras. Sobre o preconceito sofrido pelo gênero o diretor comenta: “[...]paga-se um preço muito alto por trabalhar com esse gênero, que é tido como vulgar, agressivo, gratuito e barato. São filmes de confrontação, que não querem ser agradáveis, e sim mas causar angústia, outras emoções. E a classe acadêmica tem uma grande responsabilidade nesse tipo de reação, pois ela está intrinsecamente ligada ao fazer cinema no Brasil. Tem os caras tipo a Maria Dora Mourão (que é montadora), a Marília Franco, o Ismail Xavier, que tiveram a cabeça muito feita pelo Cinema Novo e pelaNouvelle Vague, e que defendem uma matriz intelectualizada para a nossa cinematografia. Eles e acham que é terrível e vulgar ver um filme brasileiro fantástico ou de entretenimento, ou meramente sensorial" (trecho da entrevista publicada no site Carcasse: LINK)
Com todo o desprezo recebido ao longo dos anos, é possível que o gênero fosse inédito, ou não tivesse expressão nenhuma em nossa história, se não fosse por Zé do Caixão, autor de cerca de 30 filmes e ídolo de muitos fãs do cinema de terror. Entre os fãs está o próprio Dennison Ramalho que teve a oportunidade de trabalhar com Zé do Caixão em A Encarnação do Demônio, último longa-metragem do diretor. A parceria no longa pode ser vista como uma legitimação de Dennison como representante do terror nacional.