terça-feira, 22 de maio de 2012

Anjos Caídos


Para mim, uma das coisas mais bonitas no cinema é a possibilidade de guardar e reproduzir lembranças- mesmo que elas sejam fictícias. Essa condição de "memória" e de armazenamento de imagem e som dão um realismo e uma imaginação de vivência absurda, de forma que as lembranças de uma pessoa passam a ser partes das nossas também.
Em Anjos Caídos, acompanhamos as lembranças de uma velha senhora, que relembra sua juventude.O curta é escrito e dirigido pelo renomado diretor Roman Polanski que, através de flashbacks, reconstrói a memória da senhorinha.É um dos primeiros curtas do diretor e já percebemos alguns pontos de sua estética. Particularmente, acho sensacional o jeito com que Polanski trabalha com a luz e a câmera nesse filme .
A história do filme foi tirada do conto "Klozet Babcia" ,escrito pelo polonês Leszek Szumanski. A tradução para "Klozet Babcia" é "Toilet Granny" , que é o nome dado à mulheres que trabalham nos banheiros e cuidam dos papéis higiênicos. Outra curiosidade é o próprio Polanski atua no flashback que mostra a Segunda Guerra Mundial.

segunda-feira, 21 de maio de 2012


Jó, curta-metragem de 1993, dirigido por Beto Brant, coloca em cena dois elementos que sempre me interessaram muito: linguagem e história. Respectivamente efeito Kuleshov e a história de Jó – como sugere o título. O efeito Kuleshov foi um experimento conduzido pelo teórico Lev Kuleshov na primeira década do século XX. O experimento consiste na intercalação de um plano fechado que mostra um homem com uma expressão fixa e outros três planos curtos: um prato de comida, um bebê e uma mulher.


Da combinação de cada plano com o plano que mostra o homem nasce um significado diferente, como, fome, comoção ou desejo. Esse experimento é uma das bases das teorias cinematográficas soviéticas de Sergei Eisenstein e Pudovkin, que afirmavam a montagem como base da significação fílmica. O curta de Beto Brant apesar de não ser idêntico, me lembra muito o experimento soviético.

O outro ponto interessante é a história de Jó, de origem bíblica, e o desfecho criado pelo diretor. A história de Jó, que muitos afirmam ter inspirado Goethe a escrever “Fausto”, fala sobre um episódio em que o Diabo pede permissão a Deus para tentar corromper um homem, através das perdas, o demônio argumenta que a fidelidade de Jó à Deus está totalmente relacionada aos benefícios que o homem recebe na relação. Depois de arruinado Jó permanece fiel a seu criador. Nesse “jogo” o fiel perde tudo o que tinha: a vida de seus filhos, sua casa e suas riquezas.

O curta é bastante criativo e experimental, características que marcam essa fase do diretor, antes dos longas e da parceria com o escritor Marçal Aquino.

Vincent





"Há uma energia no stop motion que você não consegue descrever. Tem a ver com dar vida a objetos e por essa razão que quis trabalhar com animação. " Tim Burton


Vincent é um curta metragem dirigido por Tim Burton. Sendo o primeiro stop motion da carreira de Burton, o curta é consideravelmente famoso no meio cult e já nos mostra a estética característica das produções do diretor.
Enquanto trabalhava como artista conceitual nos estúdios Walt Disney, Tim Burton encontrou dois aliados do departamento executivo : Julie Hickson e Tom Wilhite. Os dois ficaram impressionados com o talento de Burton e, embora suas ideias mais pessoais não fossem um "material Disney", eles sentiam que os trabalhos idealizados por Burton mereciam destaque. Com isso, em 1982, Wilhite investiu US $ 60.000 na produção de um curta inspirado na adaptação de um poema de Burton, intitulado Vincent.
O filme é bastante autobiográfico, alguns dizem que é como mergulhar na infância peculiar de Burton. Filmado em preto e branco, o curta foi produzido por Rick Heinrichs e possui um “quê” de filme expressionista alemão. A história é sobre o garotinho de 7 anos Vincent Malloy, que sonha em ser como ator de filmes de terror Vincent Price (que inclusive dublou o curta).Além disso, o garoto tem como autor favorito Edgar Allan Poe e fantasia com coisas tenebrosas e obscuras , fingindo ser um louco atormentado.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Suiker


Um gênero escasso aqui no blog, talvez até inédito, é a comédia. Não sei bem porque isso acontece, mas precisa mudar. Eu mesmo nunca postei nenhuma comédia por nunca ter me impressionado com nenhum curta desse gênero. Não sei se a produção cômica é baixa nesse formato ou eu que nunca dei sorte de encontrar os bons filmes. Outra particularidade da comédia, na minha opinião, é a relatividade de “o que é engraçado” para cada pessoa. É claro que o gosto do público varia independente do gênero do filme, mas com a comédia me parece que isso é mais forte. O que me faz rir pode te dar sono, o que te faz rir pode me deixar indignado. Mas arriscando não atingir o gosto humorístico de vocês eu vou postar baseado no meu. Resumindo: Eu ri e gostei.

Dirigido por Jeroen Annokéé, Suiker parte da clássica cena: vizinha bonita que pede um pouco de açúcar emprestado; E transforma tudo em um cenário cômico que é basicamente o inverso do famoso “crime perfeito”, onde geralmente o assassino escapa sem deixar uma pista sequer.

terça-feira, 15 de maio de 2012

In Bed with Invader



Com a modernidade e a aparição de novas artes de vanguarda, o conceito do que é arte foi expandido e modificado. A street art,ou arte urbana,é um grande expoente popular da Arte nos dias de hoje. Dispensando galerias e molduras, a arte de rua é um diálogo entre as cores e o asfalto. Dos guetos aos bairros de classe alta, a arte surge nos lugares mais inusitados e é colocada de diferentes formas.O Grafite,o stêncil e lambe lambe são os artifícios mais utilizados para se expressar - ou não - uma mensagem sob essa grande tela que são as cidades.
Sendo um dos responsáveis por popularizar a street art , o artista urbano Invader propõem uma invasão pelo mundo.Inspirado no clássico jogo Space Invaders, Invader sai pela ruas colando mosaicos (uma referência ao 8 bit) de azulejo em formato de alienígenas e naves do jogo.
No curta In Bed with Invader,dirigido pelo vídeo maker Raphael Haddad,podemos observar de perto o trabalho de Invader, desde o processo criativo até a colagem dos mosaicos nas ruas.
A intervenção desse street artist ja se espalhou pelo mundo. A "Invasão" , que começou em Paris, hoje ja pode ser vista em vários lugares como Hong Kong,Los Angeles e mesmo até São Paulo. Parte dela ja foi mostrada no documentário Exit Through The Gift Shop,dirigido pelo street artist Banksy,outro personagem importante para a Arte urbana.









segunda-feira, 14 de maio de 2012

Casus Belli


Organizadas disciplinadamente, várias pessoas esperam em filas. Esperam no mercado, em shows, em casas de jogos, em igrejas, em galerias de arte, em bancos, mas quando, em uma fila por comida, alguém não consegue ter acesso ao seu alimento, e assim, toda a estrutura começa a ruir. O povo percebeu o claro abuso que estava sofrendo do governo e indignado por pagar por seus erros encontrou seu “Casus Belli” – espécie de legítima defesa em nível de estado.

Filmado em 2010, dois anos depois do inicio da crise econômica mundial, Casus Belli, é um curta-metragem grego que resume bem a reação popular em relação às medidas de austeridade propostas por seu governo. Depois de um longo período de gastos que excediam muito a produção interna do país, o governo grego se viu despreparado para a catastrófica crise financeira de 2008. Agora soterrado em dívidas colossais, e sem crédito em lugar nenhum, o governo optou por medidas de emergência para tentar salvar sua economia. Essas medidas são basicamente: aumento de impostos, aumento do preço da gasolina, aumento da idade mínima de aposentadoria e etc. Essas medidas não foram/ não são bem recebidas e grande parte da população reagiu agressivamente. Entre protestos e greves está o filme de Yorgos Zois.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Morrer ao seu lado


A combinação de habilidades de profissionais de áreas distintas normalmente resulta em um produto no mínimo interessante.O curta Morrer ao seu lado é um grande exemplo de um resultado criativo entre a parceria de diferentes áreas artísticas. Idealizado pela designer de acessórios Olympia Le-tan e os diretores Simon Cahn e Spike Jonze, o curta é uma animação feita com bordados de feltro estilizados por Olympia.
O projeto começou depois que Jonze pediu um bordado com a capa do livro O Apanhador no Campo de Centeio para colocar em sua parede e Olympia pediu um filme em troca.A trama de Morrer ao seu lado tem como pano de fundo a famosa livraria Shakespeare and Co. e conta a história do amor entre o esqueleto da capa do livro Macbeth e a personagem Mina, de Drácula.



quarta-feira, 2 de maio de 2012

A Propósito de Nice


Nice é uma cidade francesa que por volta dos anos 30, época em que foi produzido este filme, era conhecida e vendida para turistas como “a cidade do sol e da felicidade”. O tal paraíso era uma opção para quem quisesse fugir do ocasional frio de Paris, mas Nice, como a maioria das coisas, é mais bonita em alguns ângulos e distâncias específicas. É com o lado bonito que Jean Vigo inicia seu filme. Do alto, com planos abertos preenchidos por praias, coqueiros e belas casas, o cineasta se aproxima da cidade, aos poucos, expondo suas características e defeitos. Pessoas ricas e seus hábitos frios e rígidos, pessoas pobres e sua festa vulgar e desordenada fornecem o retrato cultural da cidade; Praias, belos prédios e casas são contrapostos a becos, sujeira e fumaça para iluminar os outros lados da cidade do sol.

Filho de um militante anarquista, Jean Vigo, realiza sua estreia no cinema com personalidade e protesto. Com a ajuda do russo Boris Kaufman, irmão de Dziga Vertov, o cineasta cria um mosaico de hábitos, expressões e características que ilustram a sociedade burguesa que seria criticada ao longo de sua obra.

Refrão


Dirigido por Krzysztof Kieślowski,
Refrão é um dos primeiros curtas do diretor polonês. A história se passa dentro de uma repartição de uma funerária, responsável pelo enterro e gerenciamento de cemitérios. Lá podemos perceber que o alto nível de burocracia e repetição de exigências que fazem com que a morte - e a vida - se reduz apenas a números. Sendo um documentário, o curta expressa bem a primeira fase de Kieślowski,que é influenciada por características do gênero. Durante os anos 60 e 70 na Polônia, o documentário havia permitido grandes progressos no tratamento das realidades sociais e dos sentimentos dos cidadãos, em oposição à propaganda que emanava da sede do Partido Comunista. Embora a censura fizesse um grande esforço para controlar a mídia, os cineastas e público desenvolveram uma espécie de uma linha de comunicação intuitiva. Como tal,os documentários tornaram-se veículos populares e respeitados por conta de sua crítica social. Kieslowski lembra que "Naquele tempo havia uma necessidade, muito emocionante para nós, de descrever o mundo. O Comunismo havia descrito como o mundo deve ser e não como ele realmente era.’’